“Não busques seguir os passos dos homens antigos, busca o que eles buscaram.”
Matsuo Basho
Ao longo dos anos tenho participado em diferentes formas de peregrinação. Desde as peregrinações em grupo com um guia, que revela as flores escondidas sob as pedras do caminho, até as peregrinações individuais.
E percebi que a diferença de uma viagem para a outra é radical. A viagem turística ou individual, ou mesmo uma visita a um lugar sagrado, tem um espectro muito limitado de possibilidades.
Por essa experiência, entendi que toda peregrinação é um profundo ritual de renovação e compreensão, em que a alma somente participa se houver um propósito de vivência sagrada. Também senti a peregrinação como uma metáfora, como um aprofundamento no sentido de encontrar ou revelar uma verdade profunda, seguindo o caminho e um guia que sussurra no momento adequado por onde seguir.
Com um sentido de atenção sustentada, sem buscar, mas sim descobrir, sentindo com toda sensibilidade o caminho sob meus pés, e ao redor da minha consciência e com a escuta aberta, posso afirmar que qualquer viagem, por pequena que seja, é uma peregrinação.
O diferencial é uma substância de mistério, que tem que acompanhar o viajante, e é ver. Esse ver, como percepção ligada à imaginação. Uma viagem sem a imaginação junto, é uma coleção de fotos e lembranças. Esta visão, esta observação com o olho do poeta em uma viagem, transforma a mais comum das viagens em uma peregrinação.
Devemos aprender com os grandes viajantes, como nosso amado Marco Polo. Ler é uma forma de aprender a sair do labirinto cinza da mente que transforma todo o extraordinário em ordinário e cotidiano.
A peregrinação é uma atitude interior que ilumina o caminho para a experiência sagrada. Estabelece uma liberação para certos aspectos de nossas vidas que pintam uma única cor para toda a experiência da viagem. Deixe-se levar também, para que caiam todas as máscaras e, na mesma experiência da miséria da condição humana, o "sagrado" seja amplo e generoso. E quando vemos o sagrado, possamos entender que somos o sagrado. E possamos experimentar o que Louis Pasteur disse: "ver em todas as partes do mundo, a expressão inevitável do infinito".
Na Bíblia, podemos ver Abraão como o primeiro peregrino, quando ele saiu de Ur, procurando o lugar sagrado. A Torá, a Bíblia, o Alcorão, a vida de santos e mestres e filósofos antigos, as histórias maravilhosas dos Andes, do México, da Grécia Antiga, Egito, Índia, Nepal, Mongólia, têm como eixo central a peregrinação de seus heróis.
Peregrinar é uma arte sagrada, não pense que se aprende viajando para longe, mas sim que requer uma educação guiada do ver. É uma disciplina antiga e venerável. O lento peregrinar deve-se fazer com os olhos e a sensibilidade abertas, pelos dias, sentindo o sagrado de cada momento e escutando a guia da melodia que contém cada situação que vivemos.
A arte de peregrinar é voltar à casa, o retorno a essa idade espiritual de glória e inocência, onde servir, como dizia a Madre Tereza, é uma alegria, e viver não é acumular ou investir, mas sim caminhar com os olhos da alma e da consciência abertos e sensíveis.
Em cada um de nós mora um peregrino, é a parte de nós que anela ter contato com o sagrado. A nossa prática é nossa senda, é simplesmente a maneira de ver, de escutar, de tocar, de caminhar, é a maneira de ser com humildade.
O povo irlandês sábio e com a dose de loucura para entender o sagrado tem uma despedida interessante aos peregrinos, e é com ela que me despeço...
Que as estrelas iluminem tuas peregrinações e que possas encontrar o caminho interior. Avança!
Peregrina do Coração
Texto de Isolda Ma Flores
Jornal O Peregrino - Ong Pachamama
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